Com curadoria de Marcello Dantas, mostra “O Corpo é a Casa” apresenta conjunto de obras, interativas e conceituais, desafiando e distorcendo com humor formas tradicionais presentes no dia a dia
A mostra Erwin Wurm: O Corpo é a Casa, com curadoria de Marcello Dantas, ficará em cartaz somente até o dia 26 de junho, no CCBB Brasília. O trabalho do artista contemporâneo austríaco abriu temporada em 21 de abril e está sendo exibido pela primeira vez no Brasil e despertando o interesse tanto daqueles que gostam de arte conceitual quanto interativa. Depois de passar por São Paulo (26/1 a 3/4), a mostra chegou a Brasília e daqui segue para Belo Horizonte (de 11/7 a 18/09) e Rio de Janeiro (de 11/10 a 08/01/2018).
A arte de Erwin Wurm desafia formas tradicionais encontradas em nosso cotidiano. Carros, casas e sofás ganham aspectos distorcidos e expandidos representados em esculturas, vídeos, instalações, performances e intervenções – para desafiar formas tradicionais presentes no dia a dia. O humor permeia o universo de Wurm, que também é repleto de crítica ostensiva à sociedade de consumo e à cultura contemporânea. Segundo o artista, o humor leva as pessoas a olhar para as coisas com mais cuidado. Wurm também coloca a interação do espectador como o ingrediente mais importante de sua arte.
A exposição é composta por cerca de 40 obras e dentre os destaques estão a Casa gorda (2003), com dimensões gigantescas e quase 2 toneladas de peso. Na série O artista que engoliu o mundo, haverá uma seleção de trabalhos que discute a presença do artista em sua obra; já na Esculturas de um minuto os visitantes têm a oportunidade de interagir e transformar-se em obras instantâneas. Dentro de casa e Comida são outras séries que fazem parte da exposição. Treze vídeos do artista também fazem parte da exposição e estarão distribuídos nos diversos espaços do CCBB.
A exposição “O Corpo é A Casa” conta com o copatrocínio do Grupo Segurador BB Mapfre.
Sobre a exposição
Ao percorrer o conceito de corpo e elementos domésticos e do cotidiano, o conjunto de cerca de 40 obras explora tanto noções arquitetônicas, para qual o artista olha a partir do ponto de vista escultórico, quanto “a natureza transformativa da escultura em suas muitas encarnações”, como aponta o curador. Integra o conjunto as famosas séries de esculturas corpulentas como Fat House (2003), a inflada Ferrari brilhante vermelha Fat Convertible (2004) e peças da série The Artist Who Swallowed the World (2006).
Esse conjunto antropomórfico e obeso sugere algumas atribuições biológicas ao objeto artístico, como o ato de consumir, tornando-o capaz então de “preencher” o seu próprio interior. Seguindo essa lógica, obras envolvendo comida também estão presentes como as roliças salsichas que mimetizam atividades humanas da série Abstract Sculptures (Sitting Big, de 2014 e Big Kiss, de 2015), a instalação de 37 pepinos de acrílico pintados sobre pedestais Self-Portrait as Pickles, criada em 2008 e apresentada em diversos países desde então, e Spit on Someone’s Soup, de 2003.
“Entendo que a matéria-prima de qualquer escultura é energia e a unidade de medida de energia, que é a caloria, é o mesmo elemento que irá alterar a forma, o volume e a densidade dos materiais. E estes irão explorar a ressignificação da nossa própria energia corpórea em obras de arte simbólicas, desafiando a noção de performance, escultura e arte”, comenta Marcello Dantas.
Como desdobramento das investigações das estruturas arquitetônicas, Wurm olha também para seu interior e nele o universo de objetos domésticos os quais ele deforma e redimensiona. Exemplos desses são obras como a prateleira derretida feita de bronze e pátina Dodge (2012), a cadeira prensada em um bloco Angst / Lache Hochgebirge e o vaso sanitário comprimido de madeira e resina Toilet (ambos de 2014), o relógio agigantado Lost (2015), o armário que parece ter sido esmurrado em First Ascent – North Wall (2016), entre outras.
Completam o conjunto as One-Minute Sculptures, criadas nos anos 1990, nas quais são os espectadores que dão vida às esculturas a partir das instruções deixadas por Wurm. Essas sugerem que o sujeito permaneça em diferentes posições por um minuto, seja vestindo uma peça de roupa ou posicionando a própria cabeça dentro de um armário, criando assim formas efêmeras que logo em seguida se desfazem. Também serão apresentados 13 vídeos – espalhados em espaços inesperados do CCBB como banheiros, corredores e elevadores -, além de uma grande intervenção na fachada do prédio.
A experiência das obras de Erwin Wurm é menos uma contemplação formal de seus significados ou uma crítica feroz à sociedade de consumo – embora inevitavelmente elas também demandem isso – e mais uma maneira de extrair do espectador deleite e senso de humor. Este último, segundo ele, leva o sujeito a olhar para as coisas com mais cuidado e, portanto, com maior engajamento, por isso ambos (humor e espectador) acabaram se tornando os ingredientes mais importantes do seu gesto artístico.
“Por um período de tempo eu tentei encontrar a forma mais rápida de me expressar. E isso se reflete na minha crença na franqueza. É o mesmo tipo de franqueza que você encontra nos quadrinhos, elemento que eu frequentemente uso em meu trabalho”, resume Wurm. Enquanto muitos artistas se concentram em dificultar a banalidade, o austríaco está interessado em fazer da dificuldade algo leve e acessível.
Sobre Erwin Wurm
Nasceu em Bruck an der Mur, Áustria (1954), onde vive e trabalha entre as cidades de Viena e Limberg. O artista apresentará na 57 ª Bienal de Veneza, em 2017, a exposição intitulada Pavilhão de Luz. É a quarta vez que ele participa desta Bienal.
Ganhou exposições individuais em instituições consagradas pelo mundo como o Museum für Moderne Kunst (Berlim), Museum der Moderne (Salzburg), MACRO – Museo d‘Arte Contemporanea (Roma), Museum of Contemporary Art (Sydney), Peggy Guggenheim Collection (Veneza) Palais de Tokyo (Paris), Fundación Joan Miró, (Barcelona), The Photographers Gallery (Londres), MAK – Center for Art and Architecture (Los Angeles), Städel Museum (Frankfurt), entre outros. Participou de dezenas de exposições coletivas, incluindo as mais importantes bienais como Veneza (quatro vezes), Lyon, Sevilha, Lüttich, Bucharest, Taipei, Liverpool, Montreal, Sydney e São Paulo, entre outras.
Sobre Marcello Dantas
Renomado curador da exposições, diretor artístico e documentarista, Marcello Dantas é o nome por trás de algumas das principais mostras de arte realizadas no Brasil, entre elas Invento: As Revoluções que nos Inventaram; CRU | Comida, transformação e arte; CICLO – Criar com o que Temos; Bossa na Oca, sobre os 50 anos da Bossa Nova; Roberto Carlos – 50 anos de música. Ele também assinou a curadoria de exposições individuais no Brasil de artistas estrangeiros de renome, como Antony Gormley, Patricia Piccinini, Cai Guo Qiang, Christian Boltanski, Anish Kapoor, Jenny Holzer, Gary Hill, Tino Sehgal, Peter Greenaway, Rebecca Horn, Bill Viola e Laurie Anderson, entre muitas outras.
Dantas é ainda responsável por inovar o conceito de museologia atual, trazendo doses sem precedentes de inovação, em Museus como o Museu da Língua Portuguesa, Museu do Caribe na Colômbia, Museu das Minas e do Metal com vistas a oferecer aos visitantes o que ele chama de “uma experiência de imersão total”. Em 2016 assumiu o desenvolvimento do projeto Japan House do governo do Japão em São Paulo, marcado para abrir em 2017.
Ficha técnica:
Patrocínio: Banco do Brasil e Grupo Segurador BB Mapfre
Realização: Ministério da Cultura e Centro Cultural Banco do Brasil
Produção: Madai Produções
Classificação indicativa: livre
SERVIÇO
Exposição do artista contemporâneo Erwin Wurm: O Corpo e a Casa
Curadoria de Marcello Dantas
Centro Cultural Banco do Brasil – Brasília
Período da exposição: De 21 de a abril a 26 de junho de 2017
De quarta a segunda (fecha na terça), das 9h às 21h
Galeria I, II, Pavilhão e Caixa D´água
Entrada franca