quinta-feira, 28 novembro, 2024
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    Bolsonaro cada dia mais presidente

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    Carlos José Marques, diretor editorial da Editora Três, participou do café da manhã dos jornalistas com Bolsonaro e conta os detalhes da conversa

    CARLOS JOSÉ MARQUES

    Jair Bolsonaro tem se mostrado mais à vontade na condição de Chefe da Nação. Dia após dia passou a dar demonstrações firmes de que entende o momento, a missão que assumiu e os caminhos para driblar resistências. Não tem se furtado mais ao diálogo. Faz agora reuniões diárias com parlamentares, setores empresariais e mídia. Incorporou o figurino de quem quer ser visto mais adiante como um estadista. Mesmo aqueles com quem recentemente protagonizou discussões abertas, caso do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, passaram a ser alvo de afagos. “O presidente Maia nos deu um exemplo de abnegação e de entrega no trabalho dele na CCJ. Nos surpreendeu positivamente”, afirmou na quinta-feira 25, no café da manhã com jornalistas, que contou também com o vice-presidente Hamilton Mourão, os ministros Augusto Heleno, Santos Cruz, Onyx Lorenzoni, generais e coronéis do primeiro escalão de assessores. O presidente, na ocasião, se sentiu à vontade para discorrer sobre as principais polêmicas que cercam o seu governo. De alguma forma tentou atenuar o clima de intriga que se instaurou nesses dias. Foi possível notar um esforço geral da equipe para mostrar sintonia. Não por acaso, como numa coreografia ensaiada, o encontro trazia quase todos os protagonistas das recentes confusões. Jamais tantos militares estiveram presentes ao café que vem virando rotina nos últimos tempos (esse é o quarto encontro do tipo e Bolsonaro quer marcar um a cada 15 dias). Sorridentes, solícitos e respondendo às questões para apagar a impressão de diferenças entre eles, os participantes do convescote atuaram como tropa de quartel. “Estamos juntos há 40 anos. Tentar plantar essa discórdia é batalha perdida”, disse o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno. Mourão e Bolsonaro sentaram-se lado a lado, depois das suspeitas de diferenças entre eles. ISTOÉ pode testemunhar e registrar que o clima de harmonia do grupo parecia mesmo natural. Sobre os temas tratados, seguem trechos do que disse Bolsonaro:

    · BRIGA COM MOURÃO: “Não tem atrito. Estamos dormindo todo dia juntinhos, dando beijinho a noite toda. Durante o dia brigamos sobre quem vai lavar a louça (“ou sobre quem vai cortar a grama”, completou Mourão). Somos irmãos siameses. Isso é um casamento que vai durar no mínimo até 2022. Vice é sempre uma sombra e, às vezes, não se guia de acordo com o sol. Mas, por enquanto, está tudo bem. Estamos no mesmo barco. O Brasil se acostumou com um vice-presidente poste. Mourão tem toda a liberdade para falar o que quiser e também para ouvir. Ele está muito bem preparado para me substituir. Aliás, já tem feito isso quando viajo. O único insubstituível aqui é o Mourão”. Risadas, gracejos e abraços se seguiram.

    · REELEIÇÃO: “Lá atrás eu disse que não pretendia me reeleger. Caso – fiz essa ressalva – fosse aprovada uma medida que suspendesse o mecanismo da reeleição. No passado. Ainda tá cedo para falar disso. Quando chegar em 2022 veremos. Não descarto a possibilidade, se a lei nesse sentido for mantida. Não tenho sede de poder. Estou vivendo uma experiência ímpar no comando da Nação.Vamos fazer o melhor governo possível até 2022. Por enquanto não existe um perfil de sucessor. Não há isso”.

    · META DE GUEDES: “Eu tenho dito que confio nos meus ministros. O Guedes eu conheci lá atrás. Ele me procurou. Começamos a nos encontrar. Afinal era mais bonito que o Mourão, tinha uma agenda liberal que gostei. Ele tem me dito que o número pode ser até de R$ 800 bilhões (receita com a reforma da Previdência). Menos fica complicado. Abaixo disso vamos retardar o crescimento, virá a explosão de nossas finanças, tá certo? O País poderá se transformar na Argentina, onde a crise produziu o risco de retorno da ex-presidente Cristina Kirchner. Se a reforma for mais desidratada, levará o País para o caos”

    · PRIVATIZAÇÕES: “Vamos dar um passo de cada vez. Na Petrobras vamos começar pelas refinarias. A preocupação que temos é a de trazer os investimentos de fora. Podemos nos encaminhar para uma privatização mais ampla da Petrobras. Mas digo que, mesmo abrindo totalmente a Petrobras, não vamos ter um combustível muito mais barato, devido à carga tributária. Tem impostos como o ICMS. Os Estados são os grandes vilões dos altos preços dos combustíveis.Sobre os Correios, os estudos começaram e vamos divulgar uma radiografia atual da situação da empresa. Foi lá que começou o Mensalão. Vamos também buscar parcerias para explorar o solo”.

    · RECUO DA ECONOMIA: “Economia é como um navio. De vez em quando é preciso dar uma redirecionada. Mas não é de uma hora para outra. Vai devagar. Estamos fazendo nosso papel. Estamos materializando muita coisa na Reforma e depois virão mais medidas”.

    · DESEMPREGO: “O governo não cria emprego, tá certo? Só faz isso se abrir mais cargos comissionados e não vou fazer. O que temos de fazer é facilitar a vida do empregador. A reforma trabalhista ajudou um pouco. Tem que tirar essa série de exigências do empregador. Precisamos também apostar na área da educação, na formação da mão de obra. Estamos agora vendo esse avanço da inteligência artificial e o Brasil continua sendo um país de commodity. Isso tem um limite. Quando acabar precisamos estar preparados”.

    · RODRIGO MAIA: “Eu nunca o ataquei. Sempre o respeitei. O presidente Maia nos deu um exemplo de abnegação e entrega no trabalho dele na CCJ. Nos surpreendeu positivamente. A bola agora está com o Congresso. Estamos fazendo a nossa parte. Estou recebendo oito deputados por dia. Agora, não tem essa história de oferecer dinheiro. Dizem que dei R$ 40 milhões para cada parlamentar. Se tá no orçamento impositivo não dei nada. São emendas que estão lá. Não vou falar mais de nova e velha política. É política apenas”.

    · O FILHO CARLOS: “O Carlos faz críticas. Algumas certas. Outras erradas. Ele tem aquele temperamento dele lá, um ânimo meio exaltado. Mas é filho. Nem sempre concordo com ele. Ele tem liberdade para expor a sua posição, as suas ideias no Twitter, onde quer que seja, como uma pessoa qualquer. Pode ter certeza de que eu converso com ele e nem sempre fico satisfeito. A experiência de governo só tem quem está sentado na cadeira”. Mourão completou: “Ser objeto de críticas é parte do jogo. Faz parte da liberdade de expressão.Tem gente que me aplaude. Tem gente que me critica. Algumas queixas são justas. Outras nem tanto”

    · OLAVO DE CARVALHO: “O Olavo é uma pessoa que, há 20 anos, vem falando o que eu pensava e falava. Algumas declarações dele não estão colaborando com o governo. E eu disse isso. É o que eu posso fazer”.

    · MEDIDAS: Bolsonaro adiantou que apresentará na próxima semana um projeto de lei que autoriza o uso de drones em operações policiais para abater criminosos. Será um dos dois projetos de lei que complementarão o plano de Segurança Pública do ministro Moro. Ele também afirmou que está quase pronta uma medida provisória da Liberdade Econômica, que trará para o Brasil o princípio da confiança no cidadão e no da sua relação com o Estado. Nas palavras do ministro Onyx Lorenzoni: “A declaração do cidadão será tomada como verdade”. Ainda estão no pacote a revisão da validade da carteira de motorista, estendida de cinco para dez anos, e o aumento na pontuação de multas que visam a cassação, de 20 para 40 pontos.

    (ISTOÉ)

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