O levantamento inédito, realizado com apoio do governo brasileiro, concluiu que 2.075 óbitos por câncer de mama poderiam ter sido evitados no Brasil
O aumento da incidência do câncer tem sido relacionado à alterações nos hábitos de vida, como sedentarismo, obesidade, tabagismo e alimentares. A obesidade e o sedentarismo são fatores fundamentais no aumento da taxa de alguns tipos de canceres entre eles o câncer de mama, que se mostra mais frequente em mulheres com sobrepeso e pouco ativas.
De acordo com dados divulgados este ano no artigo científico Mortality and years of life lost due to breast cancer attributable to physical inactivity in the Brazilian female population (1990-2015), publicado pela revista online Nature, uma em cada dez mortes de mulheres por câncer de mama poderia ser evitada pela prática regular de atividade física. Seriam 2.075 mortes evitadas, apenas no ano de 2015, se as pacientes realizassem ao menos uma caminhada de 30 minutos por dia, cinco vezes por semana.
A pesquisa inédita divulgada no país pelo Ministério de Saúde, realizada com apoio do governo brasileiro, destaca que outros hábitos também influenciam no desenvolvimento da doença, como o uso abusivo de álcool e dietas com excesso de açúcar. O objetivo foi avaliar a evolução da mortalidade por câncer de mama e da morbidade por sedentarismo nos estados brasileiros ao longo de 25 anos de seguimento. O estudo vai conseguir auxiliar na execução de políticas públicas no Brasil que pode passar a intervir nos fatores de risco associado a doença. Além disso, reforça ainda mais a necessidade de atuar na prevenção do câncer de mama não somente pela mamografia, mas também através de um estilo de vida saudável.
Em Brasília, a médica oncologista Ludmila Thommen que está à frente de movimentos que impulsionam informações em prol do combate ao câncer de mama, destaca que atividade física ajuda a reduzir gordura corporal que por sua vez diminui o nível de estrogênio e de insulina, que são fatores de risco para o câncer de mama. “Se pensarmos no sedentarismo, o raciocínio seria o seguinte: sedentarismo = excesso de hormônios circulantes principalmente estrogênio, hiperinsulinemia e inflamação crônica que podem levar a formação de mutação e carcinogênese”, explica.
De acordo com a médica, no Brasil a mortalidade segue elevada, em 1990 ocorreu 7.264 mortes por câncer de mama e esse valor aumentou para 16.964 óbitos em 2015. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva – INCA, a estimativa é de que em 2018 serão 59.700 novos casos da doença no Brasil.
O sedentarismo foi responsável por 12% de todas mortes por câncer de mama no Brasil no período. “Acho importante citar que essa mortalidade foi maior nos estados brasileiros com melhores condições socioeconômicas, como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. A expectativa da população está aumentando e com isso tem maior exposição a fatores de risco. Maior consumo de gordura, melhores condições para fazer o diagnóstico. Menor taxa de gestação. Mais sedentarismo e obesidade”, ressalta a oncologista.
Perspectiva
No Brasil, desde 2011 o governo envia recursos para municípios do país instalarem academias públicas ao ar livre. De acordo com dados do Ministério da Saúde, até 2019 serão 3.500 unidades em funcionamento em todo o país.
O Ministério da Saúde afirma que já adotou metas internacionais contra o sedentarismo, incluindo deter o crescimento da obesidade na população adulta até 2019, reduzir o consumo regular de refrigerante e suco artificial em pelo menos 30% na população adulta e ampliar em no mínimo 17,8% o porcentual de adultos que consomem frutas e hortaliças regularmente até o mesmo ano.
Mudando a rotina
Ludmila Thommem explica que muitas pacientes com tumores, quando submetidas ao processo de terapia, podem apresentar uma série de efeitos colaterais. Ela afirma que a prática de atividade física ajuda na fadiga oncológica, no controle da dor, nos transtornos de humor e distúrbios de sono.
“Acredito que as informações contidas no estudo devem servir de alerta para buscarmos fazer da atividade física um hábito diário em nossa vida. Lembrando que o benefício da atividade física não se limita apenas ao câncer e sim de uma série de doenças e está relacionado a melhora do sono, do humor e da qualidade de vida”, conta Ludmila.
Talvez, o estilo de vida moderno não favoreça à prática de atividade física de maneira regular para muitas pessoas que possuem uma rotina frenética. Dessa forma, o especialista em hábitos saudáveis, Daniel Novais, exemplifica algumas atividades e hábitos que podem ser adquiridos no dia a dia, ao longo da vida por aqueles com falta de tempo. “Além da alimentação que ajuda e muito na prevenção de doenças, existem medidas simples que podem ajudar, como descer no ponto de ônibus antes do que o de costume, subir escadas se você trabalha ou reside em prédio”, ressalta o nutricionista.