“A principal forma de prevenir contra a febre amarela é a vacinação contra a doença”, diz Leonardo Weissmann, infectologista do Instituto Emílio Ribas (Crédito: Agência ISTOÉ)
A febre amarela voltou a ser assunto no País depois de autoridades de saúde anunciarem a investigação de pelo menos 23 casos suspeitos de contaminação pela doença em Minas Gerais. Na região, 14 óbitos que poderiam estar ligados à febre também são analisados. As cidades de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, no norte do Estado de São Paulo, também estão em alerta depois de inúmeras mortes de macacos e pelo menos dois óbitos humanos que podem estar ligados à doença.
Para responder às dúvidas mais imediatas relativas à doença, ISTOÉ ouviu Leonardo Weissmann, médico infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e assessor da presidência da Sociedade Brasileira de Infectologia. Confira as respostas de Weissmann e consulte a lista de municípios onde é recomendada a vacinação contra a febre amarela.
ISTOÉ – O Brasil vive um surto de febre amarela?
Leonardo Weissmann – Existe uma suspeita de surto, segundo o Ministério da Saúde do Brasil. Os casos suspeitos e óbitos em Minas Gerais estão sendo investigados e podem estar associados a outras doenças, como dengue, leptospirose, entre outras.
ISTOÉ – Onde foi identificado o surto e qual é o risco de a doença chegar às grandes cidades?
Weissmann – Até o momento, os casos suspeitos registrados estão em dez municípios de Minas Gerais, que já fazem parte da área de recomendação para vacinação contra a doença. A doença tem maior número de casos no período de dezembro a maio em regiões silvestres, rurais ou de mata, que é a febre amarela silvestre. Em áreas urbanas, a febre amarela não ocorre desde a década de 1940. Nos últimos anos, os casos da doença identificados nos grandes centros urbanos ocorreram em pessoas não vacinadas que viajaram para áreas de floresta e retornaram para áreas urbanas antes dos sintomas surgirem.
ISTOÉ – Quem precisa tomar vacina contra a doença?
Weissmann – A vacina está recomendada para pessoas que residem ou viajam para regiões silvestres, rurais ou de mata. Ela pode ser usada a partir dos nove meses de idade, em residentes e viajantes para áreas endêmicas ou, a partir dos seis meses de idade, no caso de surtos da doença. Ela é contra-indiciada em gestantes, pessoas com sistema imunológico debilitado e pessoas com alergia a gema de ovo. Todos os estados, nas Unidades Básicas de Saúde, estão abastecidos com a vacina contra febre amarela
ISTOÉ – Qual o índice de mortalidade da febre amarela e qual é o tratamento?
Weissmann – A maioria das pessoas infectadas não desenvolve a doença, apresentando, no máximo, alguns sintomas inespecíficos, como febre, dor de cabeça, calafrios, náuseas, vômito, dores no corpo. Cerca de 20% dos casos podem evoluir com icterícia (pele e olhos ficam amarelos), hemorragias, comprometimento dos rins, pulmões e coração, que podem levar à morte. Não há medicação específica para a doença. O tratamento é feito com medicações sintomáticas e hidratação. Nos casos mais graves, pode ser necessário o tratamento em Unidade de Terapia Intensiva, com transfusão de sangue e diálise.
ISTOÉ – Além da vacina, o que mais pode ser feito no sentido da prevenção?
Weissmann – A principal forma de prevenir contra a febre amarela é a vacinação contra a doença. A recomendação feita pela Organização Mundial de Saúde é de se aplicar apenas uma dose da vacina durante a vida. No Brasil, no entanto, a indicação é de que sejam dadas duas doses. Outras medidas importantes em áreas de risco são: utilizar roupas que protejam todo o corpo (sapato fechado, camisa de manga longa e calça comprida), usar repelentes e evitar ou reduzir a exposição no horário de maior risco (9 às 16 horas).
ISTOÉ – O mosquito Aedes aegypti é o transmissor da febre amarela e está presente em praticamente todo o País. Existe risco de o problema virar uma questão nacional, como aconteceu com o Zika e a dengue?
Weissmann – O Aedes aegypti é o responsável pela transmissão da forma urbana da febre amarela. A febre amarela silvestre ocorre quando um mosquito do gênero Haemagogus pica um macaco contaminado, adquire o vírus e dias depois pica um humano não vacinado. É possível ocorrer a volta da febre amarela urbana, se uma pessoa infectada pela forma silvestre retorne a uma cidade não endêmica e seja picada pelo mosquito Aedes aegypti dentro dos primeiros cinco dias de infecção. Entretanto, isso ainda não ocorreu graças à vacinação gratuita fornecida pelo governo para toda a população nas áreas endêmicas e monitoramento dos casos de febre amarela em macacos, aumentando a cobertura vacinal na população toda vez que há surtos em primatas.
Cilene Pereira – IstoÉ, com Estadão Conteúdo