quinta-feira, 10 outubro, 2024
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    FGTS: saldo teve perda de quase 40% sobre a inflação em 17 anos

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    Trabalhador com saldo no fundo em 2016 teve perda real de 1,22%, enquanto demais aplicações superaram o IPCA. Governo permitirá o saque de contas inativas.

    O dinheiro aplicado no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) acumula perda de 39% para a inflação nos últimos 17 anos. Só no ano passado, a defasagem foi de 1,22%, atrás de todas as aplicações que não envolvem alto risco, segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Em 2017, cerca de 10,2 milhões de trabalhadores poderão sacar o dinheiro de contas inativas do FGTS, segundo o governo federal.

    Quando a rentabilidade de uma aplicação financeira fica abaixo da inflação no período, o retorno real (descontado à inflação) é negativo e há uma perda de poder de compra. Na prática, foi o que aconteceu com os trabalhadores que tinham dinheiro no FGTS.

    “Tirando os investimentos de alto risco, foi o pior retorno entre as aplicações financeiras, como tem sido todos os anos”, avalia o diretor executivo de estudos da Anefac, Miguel de Oliveira. “A rentabilidade é tão baixa que o FGTS nem pode ser considerado um investimento”, acrescenta.

    O Fundo de Garantia é recolhido todos os meses sobre 8% do salário do trabalhador e rende 3% ao ano mais a taxa referencial (TR). A TR é usada como referência para os juros no Brasil e faz a correção monetária de vários investimentos, como a poupança.

    Entre janeiro de 2000 e dezembro de 2016, o FGTS acumulou um retorno de 120,63%, informou ao G1 a Caixa Econômica, responsável pelo fundo. No mesmo período, a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) corroeu esses ganhos ao avançar 200,63%. Em 2016, a inflação de 6,29% ficou mais uma vez acima dos ganhos do Fundo, de 5,01%.

    FGTS x aplicações
    Todos os investimentos que não envolvem alto risco (renda variável) renderam acima da inflação oficial em 2016, com exceção do FGTS (veja o gráfico abaixo). Só tiveram retorno negativo as aplicações ligadas ao câmbio: o dólar perdeu mais de 17% frente ao real, e os fundos que acompanham a variação cambial também fecharam o ano no vermelho.

    (Foto: Arte/G1)

    Até a caderneta de poupança, que perdeu para o IPCA em 2015, conseguiu vencer da inflação no ano passado. Ela teve ganho real de 1,9% (considerando a inflação), o melhor resultado desde 2009, quando o ganho foi de 2,63%.

    Quem tinha R$ 1 mil aplicados no FGTS em janeiro de 2016 terminou o ano com R$ 1050,10. Se tivesse deixado este mesmo valor na poupança, teria acumulado R$ 1083. Esse mesmo montante aplicado no Ibovespa, índice de ações da bolsa paulista, teria se convertido em R$ 1.389,39.
    Os fundos de renda fixa atrelados à taxa Selic renderam 14% no ano passado (sem levar em conta taxas e impostos), enquanto os títulos do Tesouro Direto tiveram um retorno médio de 20,99%.

    Com rentabiliade inferior a outras aplicações consideradas conservadoras, especialistas dizem que é vantajoso para o consumidor sacar o FGTS para pagar dívidas ou buscar outras aplicações mais rentáveis. Eles ressaltam, no entanto, que o FGTS é uma poupança do trabalhador e que eles devem ter cuidado em como vão comprometer esse dinheiro.

    FGTS vai render mais em 2017
    Além do saque das contas inativas, outra novidade do FGTS é a promessa de que a remuneração do fundo será maior a partir de 2017. O governo pretende distribuir aos trabalhadores metade do lucro obtido com os investimentos feitos pelo fundo.
    O FGTS usa o dinheiro dos trabalhadores para emprestar recursos em projetos de infraestrutura e crédito da casa própria. Em troca, recebe juros. O lucro do FGTS resulta desse ganho, descontados os custos para sua manutenção, e fica disponível para o caixa do governo. A ideia agora é dividir 50% desse lucro com o trabalhador.

    “A vantagem de sacar é que há muitas aplicações disponíveis e o investidor pode ser o juiz de seu próprio dinheiro” – Carlos Eduardo Costa, do Mercantil do Brasil

    Se essa regra já valesse em 2015, seriam distribuídos R$ 6,7 bilhões como remuneração extra aos trabalhadores, uma vez que nesse ano o FGTS teve um resultado positivo de R$ 13,3 bilhões. Assim, o governo espera que, se o fundo tiver resultado semelhante daqui para frente, a rentabilidade vai se aproximar dos ganhos da poupança, hoje em 6,17% ao ano mais a taxa referencial (TR).

    Para o consultor financeiro do Mercantil do Brasil, Carlos Eduardo Costa, quem tiver saldo disponível para o saque não tem motivo para deixar de resgatar o dinheiro, mesmo com a promessa de maior rentabilidade do FGTS feita pelo governo.

    “A vantagem de fazer a retirada da conta inativa é que há muitas aplicações disponíveis e o investidor pode ser o juiz de seu próprio dinheiro”, comenta. “Além disso, não se sabe ao certo qual vai ser a melhoria desse rendimento e se ela não virá tão cedo. Vai depender o resultado financeiro do fundo”, acrescenta.

    Saque do FTGS
    Atualmente o saque é permitido apenas em certos casos, como demissão sem justa causa ou quando o trabalhador está desempregado por três anos seguidos.

    No fim do ano passado, o governo federal anunciou que permitirá o saque do valor total de contas inativas (que tiveram rescisão do contrato de trabalho) até 31 de dezembro de 2015.

    O saque também vale para quem está trabalhando ou para quem está desempregado há menos de três anos. A estimativa do governo federal é que a medida permitirá que cerca de 10,2 milhões de trabalhadores saquem o dinheiro de contas inativas do FGTS.

    Quem fizer o saque poderá usar os recursos para qualquer fim: pagar dívidas, dar entrada em um imóvel ou investir em outras aplicações, por exemplo.

    Por Taís Laporta, G1. Foto: Heloise Hamada/G1

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