Família e amigos da universitária esfaqueada por reagir a um assalto em Taguatinga na tarde desta terça-feira (14/6) estavam inconsoláveis com a tragédia
Há cerca de oito anos, a família de Jéssica Leite veio do Pará, onde ela nasceu, para o Distrito Federal. A mudança ocorreu pouco tempo depois de uma perda: a morte do pai, vítima de complicações cardíacas. Naquela época, Jéssica e o irmão, Edson, eram apenas crianças. Os dois passaram a infância em Ceilândia e em Taguatinga, onde moravam com a mãe, Mônica Santos, e também concluíram os ensinos fundamental e médio.
Quase uma década após o desembarque no DF, Jéssica cursava o 5º semestre de jornalismo na Universidade Católica de Brasília (UCB) e tinha uma rotina tranquila. Definida por amigos como uma pessoa feliz, enchia a família de orgulho. Até que a vida repleta de sonhos foi interrompida de uma forma brutal e ao mesmo tempo banal: na tarde desta terça-feira (14/6), a menina que planejava ser repórter foi assassinada com uma facada no peito a caminho da faculdade, apenas por se recusar a entregar o aparelho celular a dois bandidos.
Na quadra onde Jéssica morava, ainda em choque, na noite desta terça (14), parentes e amigos não conseguiam encontrar explicações para a tragédia. “Ela morava aqui há um tempão. A gente ia para a escola na van, juntos. Ela sempre foi a alegria da turma.
Defendia os amigos e comprava briga para defender quem fosse”, lembra o estudante Lucas Gabriel Lopes, 20 anos, que também mora na QNL 19, em Taguatinga.
Lucas lembra que o temperamento dela condiz com a versão do crime que testemunhas contaram à polícia: “Eu acho que ela pode mesmo ter reagido. Teve uma vez que a gente foi assaltado aqui perto e ela reagiu. Ela falava que não aceitava entregar as coisas”.
Jornalismo
A indignação com os problemas do país e a injustiça social também eram traços da personalidade da jovem, características que a motivavam a cursar jornalismo. Jéssica queria trabalhar em uma redação. Extrovertida e comunicativa, ela sempre estava rodeada de pessoas. Todo mundo gostava dela, segundo disse outro amigo, que pediu para não ter o nome divulgado. “Ela adorava sair com os amigos, conversar e passear. Era uma pessoa feliz, dava para perceber claramente”, disse o universitário.
Na casa de Jéssica, vizinhos e amigos se reuniram para prestar solidariedade à família. Muito abalado, o irmão, Edson Leite, 15 anos, estava em choque. “Eu não sei como vamos passar por isso. Eu fiquei sabendo quando cheguei da escola, minha mãe já sabia. Ela ouviu falar e correu lá. Viu o corpo da Jéssica no local do crime”, contou Edson. Segundo ele, a mãe, que precisou tomar calmantes para dormir, estava inconsolável.
Na memória, além do brilho e da energia de Jéssica, família e amigos também se lembrarão das pequenas coisas que ela gostava no dia a dia, como tomar sorvete, assistir a desenhos animados e brincar com Faísca, o shitsu da família.
Nesta quarta (15), a família vai definir a cerimônia de despedida. O velório e o enterro serão no Cemitério Campo da Esperança de Taguatinga, mas, até a última atualização desta reportagem, o dia e o horário não estavam definidos.
O crime
Jéssica Leite estava atrás da Igreja São Sebastião, na EQNL 21/23, quando foi abordada. Como se recusou a entregar o aparelho, foi esfaqueada no peito e morreu ainda no local. No momento em que foi assassinada, Jéssica tinha saído de casa para ir à faculdade. O Corpo de Bombeiros tentou reanimá-la, mas a vítima não resistiu.
Segundo o delegado-chefe da 17ª DP (Taguatinga Norte), Flávio Messina, as investigações já começaram, mas ainda não há suspeitos. Informações preliminares apontam que o assassino é branco, tem estatura baixa e usava bermuda de tactel clara no momento do crime. Não havia detalhes sobre o outro bandido.
A Polícia Civil busca testemunhas que possam ajudar na identificação dos bandidos. Imagens das câmeras de segurança da região também serão analisadas.
Portal Metropoles