A PESO DE OURO Em palestra a empresários em Angola, com Emílio Odebrecht na platéia, Lula ganhou R$ 479 mil da empreiteira (Crédito: Ricardo Stuckert)
Germano Oliveira – ISTOÉ
Destruição de provas, tentativa de ludibriar juízes e a abertura de contas no exterior para esconder dinheiro sujo compõem o novo mosaico de ilícitos praticados por Lula. Por menos que isso, outros réus tiveram a prisão decretada. Por que não ele?
Em depoimentos ao juiz Sergio Moro, dois importantes personagens da Operação Lava Jato, o ex-diretor da Petrobras, Renato Duque, e o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, confessaram que foram procurados pelo réu Lula para lhes propor que destruíssem provas contra petistas que foram pegos dilapidando os cofres públicos. O primeiro a confirmar que Lula pediu que destruísse provas foi Léo Pinheiro, da OAS. Lula lhe perguntou se ele tinha algum documento do acerto de contas de pagamentos de propinas feitos ao ex-tesoureiro do PT, João Vaccari. “Você tem registro de encontro de contas com o Vaccari? Se tiver, destrua”, disse Lula. O outro ato de obstrução de Justiça aconteceu entre Lula e Renato Duque. O ex-diretor da Petrobras informou que teve três encontros com o petista depois que ele deixou a presidência e, em um deles, em 2014, num hangar no Aeroporto de Congonhas, o ex-presidente lhe perguntou se ele tinha alguma conta na Suíça por onde teria recebido propinas. “Presta atenção”, disse Lula a Duque, “se tiver alguma coisa no teu nome, destrua”. Apesar dessas duas ordens de Lula para a destruição de provas na Lava Jato, o ex-presidente na teve a prisão decretada.
“Se tiver, destrua” O réu Lula pediu a Léo Pinheiro (esq) e a Renato Duque (dir) que destruíssem provas para encobrir sujeiras do PT
A obstrução de Justiça e a prática de mentir em juízo não é uma primazia de Lula. Seus advogados também são useiros e vezeiros na arte de ludibriar o Poder Judiciário. Na segunda-feira 5, o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, entrou no Tribunal Regional Federal da 4ª Região pedindo que fossem suspensos os depoimentos do empreiteiro Emílio Odebrecht e do ex-diretor da companhia Alexandrino Alencar, Zanin alegou que só soube naquela segunda-feira pela manhã, dia dos depoimentos, do teor das delações de Emílio e de Alencar, e que não teria tempo de analisar o que disseram na audiência que aconteceria na segunda à tarde. Mentira tem perna curta. Funcionários do juiz Sergio Moro entraram no sistema de processos eletrônicos da Justiça Federal e verificaram que Zanin acessou os dados nos dias 31 de maio e 1 de junho. O advogado disse que o juiz estava “espionando” seu escritório. Moro divulgou nota desmascarando o advogado do petista.
Na verdade, quem anda espionando decisões de Moro são amigos de Lula. No dia 4 março do ano passado, quando Lula teve a condução coercitiva determinada pelo juiz do Paraná, o ex-presidente já sabia de tudo com antecedência. Espiões a seu serviço lhe contaram tudo antes. Então, quando a PF foi a seu apartamento em São Bernardo do Campo naquele dia, o ex-presidente fez cara de espanto só para dramatizar. Esta semana tudo ficou claro com o depoimento da auditora da Receita Federal Rosicler Veigel. Ela declarou à Lava Jato que disse ao seu namorado Francisco José Abreu Duarte, petista confesso, que ela tinha uma “bomba” contra Lula em sua bolsa. Tratava-se de uma cópia do mandado da condução coercitiva contra o petista. Francisco “roubou” uma cópia do documento, segundo Rosicler, e telefonou para o blogueiro Eduardo Guimarães, do blog Cidadania, ligado ao PT, passando-lhe os dados. Imediatamente, Guimarães ligou para José Crispiniano, assessor de imprensa de Lula, transmitindo todas as informações. Crispiniano, obviamente, avisou Lula que, portanto, já sabia da ação da PF bem antes de todo mundo.
Cadê o dinheiro?
O réu Lula está sendo instado também a explicar onde foram parar quase R$ 350 milhões que lhe foram pagos em propinas pela JBS, Odebrecht e Sete Brasil. Os dirigentes dessas empresas disseram, em delação premiada na Justiça, que o ex-presidente recebeu esses valores em contas no Brasil e no exterior e agora o Ministério Público Federal do Distrito Federal (MPF-DF) quer saber onde o dinheiro foi parar. O procurador da República Ivan Claudio Marx, do MPF-DF, abriu inquérito na segunda-feira 5 para saber o destino de US$ 80 milhões (R$ 256 milhões) depositados pelo empresário Joesley Batista numa conta na Suíça, a pedido do ex-ministro Guido Mantega.
Além do dinheiro da JBS, Lula ainda é acusado de ter recebido R$ 40 milhões em propinas da Odebrecht, numa conta corrente mantida pela empreiteira em seu Setor de Operações Estruturadas, o “departamento de propinas”. Segundo Marcelo Odebrecht, essa conta, com o codinome de “amigo”, era atribuída a Lula. Outra “bolada” que Lula ainda não explicou é uma propina de R$ 51 milhões que ele teria recebido durante a criação da Sete Brasil no ano de 2010. O negócio gerou uma propina de R$ 102 milhões para o PT, dos quais metade teria sido destinada a Lula, segundo depoimento de Rogério Araujo, ex-executivo da Odebrecht, que fez acordo de delação premiada com a PGR.
Caça ao tesouro
• O Ministério Público Federal do Distrito Federal (MPF-DF) abriu inquérito para investigar o que foi feito de R$ 256 milhões (ou US$ 80 milhões) depositados por Joesley Batista na Suíça em nome de Lula
• A conta foi aberta a pedido de Guido Mantega
• Marcelo Odebrecht disse em sua delação premiada que a empreiteira mantinha em seu Setor de Operações Estruturadas, o “departamento de propina”, uma conta em nome de Lula com R$ 40 milhões “para atender demandas” do ex-presidente
• A conta era administrada pelo ex-ministro Antonio Palocci
• O ex-diretor da Odebrecht, Rogério Araújo, disse em delação premiada que metade de R$ 102 milhões (ou R$ 51 milhões) em propinas para o PT na venda de seis sondas da Sete Brasil para a Petrobras, era destinada ao ex-presidente Lula
• A comunicação de que metade era de Lula foi feita por Palocci