quinta-feira, 10 outubro, 2024
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    Mel brasiliense é detentor de prêmios como melhor do País

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    Brasília sempre esteve em destaque pela produção de mel nas premiações do Congresso Brasileiro de Apicultura
    Brasília sempre esteve em destaque pela produção de mel nas premiações do Congresso Brasileiro de Apicultura

    Em 1883, Dom Bosco previu que, entre os paralelos 15 e 20 do Hemisfério Sul, surgiria uma terra prometida onde jorraria leite e mel. O ponto descrito na profecia é Brasília, e o sacerdote é considerado padroeiro da capital. Não se pode dizer que o clérigo errou: a apicultura brasiliense é uma das mais reconhecidas no País e, durante 14 anos, o mel levou os títulos nacionais de mais puro e com o melhor pólen. O produto candango também é bicampeão internacional pela qualidade.

    A cor e o sabor são diferenciados. Pelas características da flora do Cerrado, o mel silvestre tem composição que o deixa mais próximo do dourado. De acordo com o professor Osmar Malaspina, do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista Rio Claro e especialista da Associação Brasileira das Abelhas, a variabilidade de plantas propicia as características únicas do mel brasiliense.

    “É um bioma muito diversificado, e esse conjunto de plantas permite um mel diferenciado”, afirma. Em Brasília, o alimento é feito, principalmente, a partir do pólen do cipó-uva, do angico, da aroeira e do assa-peixe.

    Outro fator que favorece a apicultura brasiliense é o clima seco. “A umidade ideal é por volta de 17% e 18%, não pode passar disso porque fermenta. Então, a seca auxilia muito a produção”, explica Malaspina.

    Títulos
    Brasília sempre esteve em destaque pela produção de mel nas premiações do Congresso Brasileiro de Apicultura, a cada dois anos. De 1996 a 2010, foram sete títulos: cinco de melhor mel do País, um de segundo melhor mel cristalizado e outro de segundo melhor pólen. Em competições internacionais, a cidade foi premiada no 9º Encontro Ibero-Americano de Apicultura em 2011 e recebeu menção elogiosa no Congresso da Apia Mondi, em 2012.

    José Carlos Fiuza, de 65 anos, foi o vencedor em 2010 do melhor mel do País no Congresso Brasileiro de Apicultura — anteriormente já havia ficado em segundo lugar na mesma categoria. Ele fabrica cerca de 1,6 tonelada do produto por ano, o que dá cerca de 2 mil potes. Vende cada um por R$ 30. Para fazer a colheita, o apicultor conta com o apoio de um único funcionário, porém, em 30 minutos, consegue retirar 300 quilos de mel.

    Fiuza tem aproximadamente 60 mil abelhas, e, em um único dia, a rainha põe até 3 mil larvas. O retorno financeiro é rápido, segundo ele. “Em um ano, o valor investido é recuperado e, nos seguintes, é só lucro”, conta.

    Servidor público, comprou um sítio em Sobradinho e desejava ter um pomar. Para estimular a produção, resolveu desenvolver a apicultura. “As abelhas ajudam a polinizar e aumentam a quantidade de frutas.” A rentabilidade do mel foi tão alta no primeiro ano que ele passou a se dedicar mais, fez cursos e investiu em equipamentos.

    Apesar do reconhecimento e do aumento na renda, o maior interesse de Fiuza é produzir para consumo próprio, já que não come açúcar e adoça os alimentos com o mel. “No dia em que achar um com a qualidade do meu, eu paro.”

    Assistência
    Os produtores têm apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) em cursos, em técnicas de produção e em domínio da tecnologia. De acordo com o responsável pela apicultura na empresa, o médico veterinário Edson Garcia Cytrangulo, a quantidade de mel produzida na capital, de 24,55 toneladas por ano, é pequena em comparação a outras unidades da Federação. São 1.140 colmeias espalhadas pelo DF.

    “A Emater ajuda principalmente no conhecimento, na troca de rainha, que deve ser feita a cada um ano e meio, e na de favos.” Segundo Garcia, os agricultores brasilienses são bem instruídos e, normalmente, têm uma logomarca própria. Os méis brasilienses registrados pela Secretaria da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural seguem o padrão de qualidade.

    Abelhas
    As abelhas são o grande diferencial do mel brasileiro em relação ao resto do mundo. De acordo com Denise Alves, pesquisadora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, o País passou por três fases da apicultura. Na primeira, durante o século 19, as missões jesuítas sentiram a necessidade de produzir cera para fabricar velas que seriam usadas nas missas. Assim, padres portugueses trouxeram as abelhas-europeias. Esses insetos não se adaptaram ao clima tropical. Eles tinham pouca resistência, e a produção era considerada pequena.

    O segundo ciclo começa quando o Brasil resolveu investir na produção comercial de mel. Para isso, os agricultores importaram as abelhas-africanas, acostumadas com a região dos trópicos e, portanto, mais tolerantes a altas temperaturas. Elas também são bastante resistentes a doenças, porém mais agressivas. Segundo a pesquisadora, os apicultores brasileiros não tomaram os devidos cuidados com a segurança pessoal, como o uso de vestimenta apropriada. Desta forma, muitos foram atacados pelas espécies africanas, que fugiram e cruzaram com as europeias que já viviam no País.

    Como na origem da formação étnica do povo brasileiro, as abelhas nacionais são mestiças e englobam a mistura europeia com a africana. Por terem características predominantemente africanas, recebem o nome de africanizadas. Elas se espalharam pelo continente americano e, de acordo com Denise, já há relatos dessa espécie em alguns estados do sul dos Estados Unidos.

    A produção do mel
    As abelhas retiram o néctar das flores e o armazenam em uma bolsa dentro do corpo. Em seguida, esses insetos o levam para a colmeia, onde vive a abelha-rainha. Na colmeia, “abelhas-engenheiras” assumem a função de transformar o néctar em mel com a ajuda de enzimas próprias. Em média, uma colmeia tem 60 mil abelhas para apenas uma rainha, responsável para gerar mais insetos.

    Agência Brasília

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