Sem ajuda financeira direta da prefeitura do Rio de Janeiro, os blocos de rua veem como solução para cobrir seus gastos no carnaval “ir para o mercado”, disse o presidente da Liga Carnavalesca Amigos do Zé Pereira, Rodrigo Rezende. A prefeitura garante a infraestrutura necessária para os desfiles dos blocos autorizados, o que envolve colocação de banheiros químicos, cercamento de monumentos e espaços públicos, controle do tráfego e atuação da Guarda Municipal.
Para Rezende, sem uma política pública de fomento e de amparo aos blocos, o carnaval de rua vai acabar. A captação de recursos no mercado envolve a inscrição dos blocos na Lei de Incentivo à Cultura para buscar patrocinadores que trabalhem com essa legislação, explicou o presidente.
Segundo ele, é impossível conseguir dinheiro para os desfiles fazendo festas ou “vaquinhas”. “Haja camiseta para vender para você bancar a saída de um bloco”. De acordo com Rezende, isso valia para desfiles com até mil foliões, mas hoje em dia, com desfiles, em alguns casos, para mais de 100 mil pessoas, isso é impensável. “E, infelizmente, só tem dinheiro para pagar um caminhão de som”, destacou. Além do som, o patrocínio obtido no mercado serve para pagar a infraestrutura dos blocos, isto é, segurança, banda e bateria.
Procurada, a Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (Riotur) informou que os blocos de rua foram contemplados com melhorias como segurança e monitoramento de câmeras, sem contar com subvenção de mais de R$ 2 milhões para os desfiles deste ano. O acréscimo foi a criação da Arena Carnaval Rio, na Barra da Tijuca, que “vai espalhar ainda mais o carnaval pela cidade”.
De acordo com a Riotur, a prefeitura “não mediu esforços para proporcionar um carnaval grandioso para a cidade”. Só em serviços públicos como limpeza urbana, controle de tráfego, Guarda Municipal, entre outros, a prefeitura está investindo mais de R$ 16 miSlhões para que toda a festa possa funcionar. “Só em repasses foram cerca de R$ 25 milhões; com patrocínio da iniciativa privada, mais R$10 milhões. No total, podemos dizer que o carnaval aportou R$ 60 milhões e, tudo isso, em um cenário de crise”, informou a assessoria de imprensa da Riotur.
Envolvimento
No entendimento de Rodrigo Rezende, para melhorar o carnaval de rua, o setor cultural deveria ter um envolvimento maior com a festa. “Só existe envolvimento com o turismo, e o turismo é um produto resultante dessa efeméride cultural. Ele passa a ser o objeto principal de relação com o Poder Público. Acho que, se a cultura estivesse envolvida, talvez houvesse um olhar um pouquinho mais para a raiz das coisas”, disse.
Para Rezende, o turismo está mais ligado a uma questão de marketing, de imagem da cidade. Ele acredita que a integração das visões da cultura e de turismo seria positiva para o carnaval de rua no Rio, uma vez que contribuiria para facilitar a captação de patrocínio e de investimentos, sobretudo para os blocos que ainda não têm grande visibilidade.
O presidente da liga carnavalesca destacou que esse apoio deveria ser natural, considerando-se que o carnaval deve movimentar na economia do Rio, este ano, cerca de R$ 3,5 bilhões e gerar de R$ 350 milhões a R$ 400 milhões em impostos arrecadados. “É um pedaço da economia criativa altamente rentável para os cofres públicos”, disse.
A questão vem sendo discutida entre as associações de blocos, que reivindicam há tempos um edital de fomento da Secretaria de Cultura para blocos, que possa cobrir gastos com caminhão de som, segurança e bateria. Segundo ele, com esses custos básicos cobertos e a prefeitura colocando banheiros químicos, fazendo o cercamento de monumentos e espaços públicos e controlando o trânsito, o problema termina. “Acaba o prejuízo, acaba aquela coisa de ver um diretor de bloco passando o ano inteiro pagando uma dívida que contraiu no carnaval.”
Dos oito blocos que compõem a Liga Carnavalesca Amigos do Zé Pereira (Quizomba, Orquestra Voadora, A Rocha, Vagalume, Céu na Terra, Laranjada, Toca Rauuul! e Último Gole), o maior bloco em termos de participantes, estimados em torno de 120 mil pessoas, é a Orquestra Voadora, que desfila no Aterro do Flamengo, zona sul do Rio, na terça-feira de carnaval (13).
Seleção pública
A Secretaria de Estado de Cultura informou que desde 2008 realiza uma seleção pública para apoio ao carnaval. São contemplados na chamada pública os blocos de enredo e de embalo, as escolas de samba dos grupos B, C e D, escolas de samba mirins, escolas de samba que desfilam fora da capital, ranchos, afoxés, bois pintadinhos e afins, grupos de Clóvis, bate-bolas e de folião original, bandas carnavalescas, bailes populares e eventos pré-carnavalescos ou carnavalescos.
Na última edição, promovida em 2015 para o carnaval de 2016, a secretaria informou que foram selecionados cerca de 80 projetos em 17 municípios. A crise financeira do estado, entretanto, impediu que todos os contemplados fossem pagos. A secretaria garantiu que está empenhada em resolver esse passivo.
Para o carnaval deste ano, o órgão cedeu o espaço da Casa França-Brasil para um projeto que vai funcionar como ponto de encontro de blocos cariocas e grupos carnavalescos de Salvador, Recife, Olinda, São Paulo e Belo Horizonte. A secretaria está preparando para o carnaval de 2019 editais específicos que beneficiarão a capital e o interior do estado.
Sobre a necessidade de um envolvimento maior da cultura na definição de políticas públicas para o carnaval, o que poderia facilitar a criação, por exemplo de linhas de financiamento, como defendem os blocos de rua, a Riotur respondeu que as linhas já existem e já foram implementadas neste ano.
Foram realizadas três chamadas públicas para atrair investimentos do setor privado. A iniciativa arrecadou R$ 38,5 milhões, segundo a Riotur. “Estamos, cada vez mais, buscando esse fomento por meio da iniciativa privada. Já vimos que fomos bem-sucedidos e agora a tendência é continuar, até o momento em que eventos do porte do carnaval do Rio sejam autossuficientes financeiramente”, completou a Riotur.
(Fernando Frazão/Agência Brasil)