Após um longo período de férias, alunos de escolas particulares em todo o país voltaram às aulas na educação básica. Para muitos, a retomada do período letivo marca o retorno à normalidade das atividades familiares, embora ainda costuma-se dizer que o ano só começa depois do Carnaval. O processo de preparação para o ingresso ou reinserção dos filhos à rotina escolar, independente da idade, exige uma intensa disposição dos pais e familiares que envolve a escolha ou manutenção da escola mediante a disponibilidade financeira, o reconhecimento do projeto pedagógico, os aspectos logísticos atrelados ao calendário das aulas e a aquisição de um imenso aparato educacional composto de sistemas de ensino, livros didáticos, uniformes, mochilas, materiais escolares e acessórios de toda ordem. Mas quais são os números da educação básica privada no Brasil?
Segundo estudo recente apresentado pela Apple Education, 5,5 milhões de alunos, do ensino fundamental e médio, movimentam um mercado com receitas anuais de 40 bilhões de reais e crescimento de 6% ao ano. Em paralelo, o segmento editorial fatura 700 milhões de dólares com a venda de livros didáticos. Em 2014, por exemplo, foram 150 milhões de exemplares vendidos. Também é notória a adoção de sistemas de ensino por cerca de 50% das escolas particulares, que buscam a organização do trabalho pedagógico, a integração da grade curricular com o material didático e a uniformização das metodologias de ensino. Outro dado curioso mostra que grandes grupos educacionais são controlados por denominações religiosas católicas, adventistas e presbiterianas, embora o mercado seja bastante fragmentado e apresente potencial de crescimento orgânico, fusões e aquisições para empreendedores orientados para o resultado e o lucro. Apenas para ilustrar, o Colégio Projeção em Brasília iniciou o ano com 14% de incremento, adotando políticas agressivas de captação de alunos e de expansão dos negócios.
Sistemas de ensino são adotados por cerca de
50% das escolas particulares, integrando a
grade curricular com o material didático.
Com base no Censo Escolar 2017, produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), a participação das escolas da rede privada na educação básica corresponde a 21,7% do total de estabelecimentos, com 18,3% no número de matrículas. Os anos iniciais, do 1º ao 5º ano, respondem por 20% das escolas e 18,4% de market share. Já os anos finais, do 6º ao 9º ano, somam 21,6% de colégios e 14,9% de alunos. No ensino médio, da 1ª à 3ª série, as escolas particulares representam 29% dos estabelecimentos, com participação de mercado de 12,2%. Quanto aos recursos disponíveis na educação básica, o ensino médio lidera todos os indicadores apurados pelo Ministério da Educação como biblioteca em 92,5% das instituições, acesso à internet em 92,3%, quadra de esportes em 83,3%, laboratório de informática em 69,8% e laboratório de ciências em 58,3%.
Em um cenário cada vez mais competitivo, o último relatório do Estudo de Caracterização do Setor de Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal produzido pelo SINEPE/DF apontou que, dentre os fatores determinantes para a escolha da escola, a localização com 58,1%, o projeto pedagógico com 43,4%, a infraestrutura com 39,5% e a reputação/tradição com 34,3% foram as principais respostas dos entrevistados, superando outros indicadores como qualidade da equipe, sensação de segurança, indicação de amigos e parentes, oferta de turno integral, valor da mensalidade, formação religiosa, opção do próprio aluno e aprovação no vestibular. Quanto aos atributos que mais pesaram para a permanência do aluno na escola atual, 62,4% das entrevistas trouxeram a qualidade e o método de ensino como fator principal. O aluno gostar muito da escola teve 49,7% das citações, uma boa equipe de profissionais 47% e a boa formação pessoal, retratada por princípios éticos e morais, 32,8%. Itens como segurança, formação cultural e intelectual, socialização, valor de mensalidade, tradição, formação religiosa e preparação para o vestibular obtiveram índices menores.
Localização, com 58,1% das citações e método
de ensino, lembrado por 62,4% dos
entrevistados, são determinantes para a
escolha e permanência do aluno na escola.
Outros aspectos como a adoção de práticas inovadoras de ensino (ex.: o uso da tecnologia no ambiente escolar), a participação de alunos em projetos sustentáveis (ex.: economia de recursos naturais), a responsabilidade social (ex.: campanhas em comunidades carentes) e o empreendedorismo (ex.: visitas técnicas a empresas de ponta) agregam valor aos programas didáticos das instituições. Com as novas gerações de jovens multiconectados ingressando na educação básica, é provável que o fiel da balança, tanto na escolha quanto na permanência do aluno na escola, seja mesmo a tecnologia aplicada ao processo de ensino e aprendizagem. Em palestras, o doutor em Ciências da Educação Rossandro Klinjey, autor do livro Help! me eduque. Prepare seu filho para lidar com o mundo, tem abordado este tema. Projeções dinâmicas, lousas interativas, e-books animados, aplicativos, gamificação, computação em nuvem e internet das coisas são apenas o começo da transformação digital que está em curso, incitando a imaginação de como será a escola do futuro. O papel do professor também sofrerá alterações profundas, colocando-o na condição de mentor para o aprendizado do aluno e compartilhando o protagonismo em sala de aula.
O uso da tecnologia no processo de ensino e
aprendizagem é apenas o começo da
transformação digital que está em curso.
O Doutor Rossandro Klinjey, fenômeno nas
mídias sociais, também aborda este tema.
O comunicador e líder eclesiástico americano Gordon B. Hinckley afirmou que “A educação é a chave da oportunidade” e sabemos bem o significado desta verdade. Para que tem filhos em idade escolar, como é o meu caso que tenho três, cada um estudando em um local diferente e com propostas pedagógicas distintas (rede de ensino confessional, pedagogia logosófica e método bilíngue), estar atualizado com as inovações de mercado, conectado ao meio acadêmico e envolvido no processo de aprendizagem são dicas importantes para eliminar as dúvidas e reduzir a ansiedade que sentimos ao avaliar o progresso deles, nos posicionar melhor perante as escolhas e corrigir rumos quando necessário. Afinal de contas, aprender ficou diferente. Bem-vindo às aulas!
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*Rodrigo Costa é estrategista de marketing especializado nas áreas de bens de consumo, educação, esportes, logística, tecnologia da informação e telecomunicações. Além de executivo, é sócio da RC Marketing e Consultoria.