A cachaça é uma bebida genuinamente nacional. A história da cachaça relembra a época da escravidão, quando os escravos trabalhavam na produção do açúcar extraído da cana. Os portugueses já tinham domínio sobre o simples método: colhiam a cana e, após ser feito o esmagamento dos caules, cozinhavam o caldo extraído em enormes tachos até se transformarem em melado. Neste processo, era fabricado um caldo mais grosso, chamado de cagaça, que era comumente servido junto com as sobras da cana para os animais. No decorrer do tempo, sob influência do clima, a cagaça fermentava. Certamente algum escravo experimentou o líquido que acumulava no cocho dos animais e descobriu a bebida.
Outra hipótese e talvez a mais sensata, conta que, certa vez, os escravos misturaram um melaço velho e fermentado com um melaço fabricado no dia seguinte. Nessa mistura, acabaram fazendo com que o álcool presente no melaço velho evaporasse e formasse gotículas no teto do engenho. O líquido destilado que estava no teto começou a pingar em suas cabeças e ir em direção a boca, então os escravos apelidaram de pinga. Está versão é a mais aceita pelos especialistas.
Com o tempo a produção da bebida foi sendo aperfeiçoada, filtraram, depois destilaram, desenvolveram alambiques de barro e depois de cobre. A bebida era muito apreciada em épocas de frio. No início do século XIX, com novas técnicas de produção, a cachaça passou a ser muito apreciada. Era consumida em banquetes palacianos e misturadas a outros ingredientes, como gengibre, o famoso Quentão que encontramos todos os anos nas festas juninas. Depois da metade do século XIX, com a economia cafeeira, a abolição da escravatura e o início da República, criou-se um largo preconceito com os produtos brasileiros, sobretudo com a cachaça que passou a ter fama de bebida de escravo, de pinguço e de alcoólatras. O que prevalecia nesta época era a moda europeia.
Em 1922 a cachaça foi a bebida oficial da Semana de Arte Moderna, voltando ao senário mundial, como a bebida brasileira. Depois da metade do século XX, a cachaça teve influência na vida artística nacional, com a cultura dos botecos e a boemia. Passou a ser servida como bebida brasileira oficial nas embaixadas, eventos comerciais e voos internacionais.
Em 1996, o então Presidente Fernando Henrique Cardoso através do Decreto 4.702, legitima a cachaça como produto tipicamente brasileiro e estabelece critérios de fabricação e comercialização. Hoje, há mais de 4 mil alambiques espalhados por todos os estados brasileiros e a indústria da cachaça emprega mais de 450 mil pessoas.
Na próxima edição falaremos sobres os tipos de cachaça e ensinaremos a clássica receita de caipirinha. Não perca.