A crise se aprofunda no ninho tucano a menos de um ano da eleição. Em jogo, não apenas a presidência da legenda, a permanência no governo Temer e a candidatura em 2018, mas o destino do partido: se apostará na renovação ou se seguirá a reboque de velhas fórmulas, que já se revelaram fracassadas
Octávio Costa e Tábata Viapiana – ISTOÉ
A fuzarca tomou conta do ninho tucano e sobrou pena para todo lado. Os caciques não se bicam. De FHC, que começou a semana criando uma celeuma por conta de um artigo divulgado sem combinar com os russos da legenda, a Tasso Jereissati e Aécio Neves, que terminaram a semana num bate-boca público. Com o partido cada vez mais rachado, as brigas internas já viraram rotina. As correntes da legenda compõem uma miríade de interesses. Uma ala dos tucanos pede o desembarque imediato do governo de Michel Temer. Outra, quer a permanência em cargos no Executivo. Há também os que concorrem pela presidência da legenda. O pano de fundo é outra refrega: em jogo a candidatura ao Planalto ano que vem. A disputa é cruenta. Na prática há um novo ninho, e um novo clima, ainda dominado por um bloco de caciques disposto a repetir velhas fórmulas de poder que não vingaram.
O preço a pagar pelo voluntarismo poderá ser alto. O acalentado projeto de retorno ao poder, em 2018, corre sério risco de ser comprometido. É quase uma marca da história recente do PSDB: muito mais perdas do que ganhos. Vai longe o tempo de glória dos tucanos. O apogeu foi a eleição de Fernando Henrique Cardoso, a reboque do sucesso do Plano Real, em 1994. Desde 2002, porém, os tucanos foram desalojados pelo PT. E a ficha parece não ter caído até hoje. O problema, no que constitui o principal obstáculo, é que a cúpula do PSDB, com seus velhos caciques, vive do passado e reage a todas as tentativas de renovação. As alas de intelectuais, os chamados “cabeças-pretas” e mesmo os quadros que entraram pregando mudanças progressistas não são considerados nas decisões. É o que revelam os últimos movimentos intestinos do tucanato.
Por mais que uma intervenção pareça um gesto brusco, Aécio impôs ao partido um necessário freio de arrumação. Tasso e os condestáveis da legenda articulavam nos bastidores para dominar os próximos passos no tabuleiro do xadrez tucano. A fim de saciar sua fome de poder, o presidente destituído e seus aliados queriam não só emplacar a presidência da sigla como assegurar a preponderância na hora de decidir quem seria o escolhido para a corrida de 2018. Tudo isso para não correrem o risco, numa eventual prévia para a escolha do candidato ao Planalto, de os chamados cabeças-pretas e outras correntes pró-renovação exercerem influência na decisão.
Os jovens deputados federais que lutam para oxigenar o PSDB são a prova de que nem tudo é anacrônico no partido. O núcleo inclui a deputada Mariana Carvalho (SP), que ocupa a segunda secretaria da Mesa da Câmara, o deputado Pedro Cunha Lima (PB), primeiro vice-líder do PSDB na Câmara e filho do senador Cássio Cunha Lima. Ele foi o deputado mais votado na Paraíba em 2014. Outros destaques dos quadros mais jovens do PSDB são o deputado Arthur Virgílio Bisneto (AM), filho do prefeito de Manaus, e a deputada Sheridan (RO), que foi relatora da reforma política. Todos eles tentam abrir espaço no partido para crescer. Foi fato novo a vitória do empresário João Doria em São Paulo, depois de uma disputa interna com Andrea Matarazzo, que recebeu apoio da velha guarda. Na verdade, os caciques tentam manter tudo sob controle, avessos que são às mudanças. Tasso Jereissati pertence à velha guarda. E seu adversário, Marconi Perillo, se identifica com as novas correntes. Mas nada é tão simples no PSDB.
Apesar de destituído por Aécio Neves, Tasso Jereissatti acredita que terá como aliado até a derradeira disputa em 2018 o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que na verdade tem atuado como mediador, ora pendendo para um lado, ora para o outro. Na última semana, ele publicou artigo defendendo a saída do PSDB da base governista. “É hora de decidir”, cobrou FHC. “Ou o PSDB desembarca do governo na Convenção de dezembro próximo, e reafirma que contiunuará votando pelas reformas, ou sua confusão com o peemedebismo dominante o tornará coadjuvante na briga sucessória”, alertou. E aproveitou para fazer uma citação indireta aos “cabeças-pretas”: “Os cabelos não precisam ser tingidos, mas a alma deve ser nova, para que a coligação que formar ganhe credibilidade e possa virar a página dos desastres recentes”.
Do outro lado da disputa pelo comando do PSDB, Marconi Perillo, apoiado pelo prefeito de São Paulo, João Doria, pelos quatro ministros tucanos,
A questão que fica agora é: daqui para a frente, que rumo tomará o PSDB? Deixará se levar de vez pelas velhas e coroadas cabeças cheias de planos conservadores cujo tempo já passou? Ou vai abrir alas para as novas lideranças? Pelo andar da carruagem, o PSDB parece insistir no erro e trilhar o caminho que não está levando a lugar nenhum. Desenha-se, por influência da cúpula, uma provável vitória de Tasso Jereissati. Caso isso aconteça, cresce a chance de o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ser confirmado como o candidato tucano à presidência em 2018. Ou seja, Alckmin, que foi fragorosamente derrotado por um Lula desgastado pelo mensalão, tem grande possibilidade de enfrentar o mesmo adversário. E também muita chance de repetir o mau desempenho.
Não é de hoje que o PSDB enfrenta disputas internas. Mas, agora, como se vê, corre o risco de comprometer qualquer pretensão que ainda alimente de voltar ao poder. Se viveu um momento importante em 2014, com a votação surpreendente de Aécio Neves no segundo turno, quase derrotando Dilma Rousseff, o PSDB pode perder de uma vez por todas o protagonismo que ainda lhe resta. Dependendo das escolhas que façam seus velhos caciques, o partido voltará à estaca zero a menos de um ano da eleição. Os tucanos não têm mais tempo a perder. É hora de optar.