Introduzir abelhas em áreas de plantio é uma estratégia barata e sustentável para melhorar o rendimento de diversas culturas agrícolas, em pequenas e grandes propriedades. Por isso, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) tem incentivado parcerias entre meliponicultores (criadores de abelhas sem ferrão) e produtores rurais. Em uma propriedade rural de alimentos orgânicos, as abelhas da Schappo Jardim de Mel promoveram aumento de 30% na produtividade da abóbora em uma área experimental.
Segundo o extensionista rural da Emater-DF Carlos Morais, “trata-se de uma relação ganha-ganha, pois por um lado as abelhas contribuem para aumento da produtividade das propriedades e da biodiversidade e, por outro, há a produção de mel de alta qualidade, contribuindo para o aumento da renda dos produtores.”
No mês de agosto, quando as abóboras estavam em floração, os meliponicultores Evandro Schappo e Diana Schappo fizeram parceria com o produtor Joe Valle. Foram instaladas 10 caixas de abelhas Mandaguari próximo ao plantio de 1 hectare de abóbora e vários ninho-isca. Cinco caixas foram compradas pelo produtor, que quer também implantar um meliponário na propriedade, Fazenda Malunga, a partir da multiplicação das abelhas.
A Emater e os produtores Evandro e Diana vão contribuir assessorando sobre o manejo correto das colmeias e sobre as melhores espécies de flores e plantas que contribuem para o fornecimento de resina, néctar e pólen para as abelhas.
Para Diana, a parceria contribui para demonstrar os resultados do trabalho das abelhas em uma área maior de cultivo. “Queremos ampliar nosso trabalho e montar meliponários nas propriedades com objetivo de conscientizar as pessoas sobre a importância da preservação ambiental e das abelhas para a produção de alimentos. Já temos mais de 20 meliponários na região da Serrinha (Lago Norte)”, diz.
Para o produtor Joe Valle, “é uma iniciativa importante, tanto economicamente, com aumento da produtividade, quanto ambientalmente, para manutenção e aumento da biodiversidade da propriedade rural, ainda mais utilizando abelhas nativas da região. Quero implantar um meliponário para que as pessoas que visitam a propriedade também conheçam as vantagens de termos uma produção sustentável, com ambiente propício para as abelhas que, em contrapartida, nos ajudam com a produção agrícola”, conta.
Meliponicultura
As abelhas Jataí, por exemplo, polinizam até 90% das árvores e flores nativas da região e produzem um mel de maior valor agregado do que o de abelhas com ferrão.
A produtividade das abelhas Jataí é de 0,5 kg a 1,5 kg de mel por caixa de abelha por ano, quantidade baixa se comparada à produção da abelha com ferrão, de 25 kg a 30 kg por ano por caixa. Entretanto, enquanto o mel da abelha com ferrão custa em média R$ 30 o litro, o mel de abelha sem ferrão é comercializado em pequenas porções e chega a atingir preços acima de R$ 300 reais o litro.
A Emater-DF faz a capacitação e o acompanhamento de produtores rurais. Nos cursos realizados pela empresa, são apresentadas as principais espécies de abelhas nativas que podem ser criadas no DF, as características de cada uma, a importância biológica e econômica das abelhas, como montar e onde instalar iscas, as características das colmeias, entre outros temas.
Preservação
E para contribuir com a conservação das espécies nativas de abelhas sem ferrão, foi publicada neste ano a Lei 7.311 d, de 27 de julho de 2023. O objetivo é normatizar a preservação, o resgate, a captura, a remoção, a criação, a reprodução, o manejo, a exposição, o comércio e o transporte dessas abelhas.
No Distrito Federal, existem 35 espécies de abelhas nativas, localizadas nas regiões do Rio Paranoá, Rio Maranhão, Rios São Bartolomeu e São Marcos, Rios Descoberto e Corumbá e Rio Preto.
Para o extensionista rural da Emater-DF, Carlos Morais, “todo criador de abelhas é um preservacionista, pois precisa manter as nascentes e florestas que alimentam as abelhas. E a regulamentação diminui o risco de extinção das espécies criadas, seja por hobby, preservação ou para fins econômicos ou zootécnicos dessa atividade, que é praticada há séculos por populações tradicionais”.