Dra. Mariane Taveira*
Existem fortes evidências epidemiológicas que suportam a associação causal entre o álcool e câncer em, ao menos, sete sítios: orofaringe, laringe, esôfago, fígado, cólon, reto e mama feminina. No entanto, as discussões públicas e científicas com frequência utilizam expressões como “câncer relacionado ao álcool” ou “atribuível ao álcool”, sendo facilmente interpretado como algo menos importante que câncer causado pelo etilismo.
A baixa compreensão dos mecanismos biológicos – e reconhecimento de que para um mesmo câncer há vários fatores de risco – dificultam a associação do álcool como verdadeira “causa do câncer”. Aliados a isso estão o discurso da indústria e a baixa aceitação social da interrupção do consumo.
Existe uma relação direta entre dose e aumento do risco, assim como com a localização que é mais forte nos cânceres de boca faringe e esôfago (risco relativo, 4-7 por >50 g/dia de álcool em comparação a não beber) e menor para tumor colorretal, hepático e da mama feminina (risco relativo 1,5 para >50 g/dia).
Para os cânceres de boca, faringe, laringe e esôfago existe ainda relação do álcool com o tabagismo, resultando em um efeito multiplicador de risco. Reforçando a relação causal entre álcool e câncer está a evidencia de que a interrupção do hábito está associada a redução de risco, tornando-se igual ao de não etilistas em um período aproximado de 20 anos.
Os mecanismos pelos quais o álcool causa câncer ainda são pouco entendidos. Existe forte evidência que o dano ao DNA é causado pelo acetaldeído, um metabolito sabidamente carcinogênico. O álcool também pode agir facilitando o acesso de outros carcinógenos, como os componentes do tabaco, permitindo sua entrada na mucosa das células do trato aerodigestivo.
Os benefícios do consumo moderado de álcool para a saúde, principalmente relacionado a doenças cardiovasculares, vem sendo revistos uma vez que não existe nível seguro de consumo quando se trata de câncer.
Pesquisas em andamento serão importantes para ajudar na compreensão dos mecanismos e aumentar a confiabilidade dos dados epidemiológicos.