Em carta aberta, eles pedem ao Ministério da Agricultura que exija de produtores a realização de exame de prenhez das vacas transportadas para o abate
Fiscais estaduais agropecuários do Rio Grande Sul, pesquisadores especialistas em bem-estar animal e as organizações Animal Equality, Alianima, Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, Mercy For Animals e Sinergia Animal entregaram hoje para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) uma carta aberta pedindo o fim do transporte e abate de vacas gestantes. ttps://animalequality.org.br/
O transporte é considerado um grande desafio do bem-estar animal, por ser uma etapa extremamente estressante na vida dos animais destinados ao consumo humano, sendo ainda mais prejudicial para as fêmeas gestantes. O peso do útero e do feto de uma vaca prenhe pode chegar a 75 quilos e a um volume de 60 litros. Nos últimos três meses de gestação, são ainda maiores os riscos de aborto ou parto prematuro, estresse por calor, desidratação, lesões e doenças metabólicas durante e após o transporte. Por isso, transportar vacas no final da gestação pode ser considerado maus-tratos, um crime com previsão de pena de prisão e multa, pelo artigo 32 da Lei Federal 9.605 de 1998.
A quantidade de vacas gestantes abatidas no terço final aumentou significativamente desde de 2017, quando foi alterado o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA), permitindo o uso de carne de vacas prenhes para consumo. Dados registrados pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, por exemplo, apontam que, no semestre anterior à implementação do RIISPOA, 381 vacas no terço final da gestação foram abatidas em abatedouros municipais e estaduais desse estado. Enquanto no segundo semestre de 2020, esse número foi 1.270% maior.
“A morte do bezerro (feto) dentro do ventre materno também pode estar relacionada a problemas de bem-estar animal, pois no processo de abate apenas a vaca é insensibilizada, assim, o bezerro deixa de receber oxigenação e morre sem passar previamente por um processo que garanta que esse animal não sinta dor ou desconforto durante sua morte”, explica o professor Mateus Paranhos, signatário da carta e um dos maiores especialistas em bem-estar animal no Brasil, do Departamento de Zootecnia, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (Unesp de Jaboticabal).
Vídeo gravado pela equipe de investigação secreta da Animal Equality mostra cenas chocantes de fetos de bezerros mortos, jogados pelo chão. A organização flagrou também uma vaca gestante sendo sangrada enquanto o feto se debatia dentro dela tentando sobreviver.
https://animalequality.org.br/
“A Animal Equality é contra qualquer exportação de animais vivos, mas acreditamos que os meios para acabar com o transporte e abate nacional de vacas prenhes podem ser similares aos já previstos na Instrução Normativa 46/2018. O artigo 10 prevê que “Fêmeas, a partir de 12 (doze) meses de idade, quando destinadas ao abate devem estar acompanhadas de atestado negativo ao exame de prenhez, firmado por médico veterinário, realizado no máximo 15 (quinze) dias anteriores à data da exportação”, diz Carla Lettieri, diretora executiva da Animal Equality Brazil.
Além de prever a obrigatoriedade de realizar um exame de prenhez das vacas transportadas para o abate, os signatários pedem ainda a aplicação de multa para os frigoríficos que comprarem e abaterem vacas no terço final da gestação. “Se queremos uma sociedade mais justa, devemos incluir os animais em nossa busca por justiça.”, diz Lettieri.
Sobre a Animal Equality – A Animal Equality é uma organização internacional que trabalha junto à sociedade, governos e empresas para acabar com a crueldade contra animais de criação. Presente em 8 países, a Animal Equality mantém um escritório no Brasil desde 2016.
Sobre o Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal – Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal é uma organização fundada há 21 anos, que conta com uma equipe multidisciplinar, incluindo médicos-veterinários, pesquisadores, especialistas em marketing, comunicação, gestão de projetos, advogados e biólogos. Além disso, tem uma rede de apoio de outras ONGs por todo o país. São mais de 100 organizações parceiras que atuam pelo meio ambiente e a proteção animal no Brasil. São ONGs independentes, mas com as quais temos estreita parceria.
Sobre a Mercy For Animals – Fundada há mais de 20 anos nos Estados Unidos e presente no Brasil desde 2015, a Mercy For Animals (MFA) é uma das principais organizações sem fins lucrativos do mundo dedicada a combater a exploração de animais para consumo, especialmente em fazendas industriais e na indústria da pesca. A MFA trabalha para transformar o atual sistema alimentar e substituí-lo por um modelo que seja mais compassivo com os animais e garanta um futuro melhor para o planeta e todos que o habitam. Atualmente, a Mercy For Animals também opera em outros países da América Latina, no Canadá e na Índia.
Sobre a Sinergia Animal – A Sinergia Animal é uma organização internacional de proteção animal que trabalha em países do Sul Global para reduzir o sofrimento de animais na pecuária e promover escolhas alimentares mais compassivas. A entidade é reconhecida como uma das mais eficazes do mundo em seu campo de atuação pela Animal Charity Evaluators (ACE).
Sobre a Alianima – Organização de proteção animal e ambiental que atua na redução do sofrimento de animais impactados pela ação humana e refrear a degradação dos ecossistemas brasileiros. Adota uma perspectiva não-antropocêntrica e embasamento técnico-científico para compor suas ações.
Fotos: https://drive.google.com/
Para mais informações sobre:
RIISPOA: http://www.planalto.gov.br/
Instrução Normativa 46/2018: https://www.in.gov.br/materia/