Estelionatários usam a maior rede social do mundo para praticar diversos tipos de delitos e lesam milhares de pessoas no Brasil. Saiba como se defender dessas máfias
Ludmilla Amaral – ISTOE
A dentista J.T., de 37 anos, não hesitou quando viu um anúncio no Facebook vendendo ingressos para o show da banda inglesa Coldplay, em São Paulo. O comunicado, feito na página do empresário Rodrigo Bittar, orientava os interessados a fazer uma transferência bancária no valor combinado – os ingressos chegariam pelos Correios dez dias depois do pagamento. J.T. comprou dois tíquetes, por R$ 1,7 mil. E está esperando por eles até hoje. Detalhe: o espetáculo que lotou o Allianz Park, na Zona Oeste da capital paulista, ocorreu no dia 7 de abril.
A dentista procurou insistentemente por Bittar. Num primeiro momento, ele teria dito que “estaria com os ingressos em mãos e os enviaria no dia seguinte.” Como não cumpriu o combinado, J.T. voltou a procurá-lo, mas o empresário já havia deletado sua conta na rede social e não atendia mais ao telefone. No dia do show, Bittar reapareceu no Facebook. Disse que havia sofrido um golpe e que os fornecedores não haviam entregado os ingressos. “Depois de publicar isso, ele sumiu de novo. Mas como os fornecedores não entregaram, se ele havia dito que os convites estavam com ele?”, questiona a mulher.
Além de J.T, cerca de 50 pessoas compraram, e não receberam, os ingressos de Bittar, num prejuízo que ultrapassa os R$ 100 mil e está sendo investigado pelo 15º. DP, no bairro paulistano do Itaim Bibi. Mas o golpe dos ingressos pelo Facebook está longe de ser um caso isolado. Com o avanço da comunicação pelas redes sociais, cresceu também o número de crimes virtuais, das mais variadas modalidades (leia quadro). De acordo com dados da Delegacia de Investigações sobre Crimes Cometidos por Meios Eletrônicos de São Paulo, só na capital paulista há atualmente 1,2 mil inquéritos de estelionato digital.
Os delegados explicam que os bandidos praticam as mesmas modalidades de crimes da era pré-internet, porém agora ficou mais fácil para eles. Antes, por exemplo, um cambista precisava fazer uma cópia de um ingresso e abordar pessoas na rua. Hoje, o estelionatário não tem a necessidade de criar o ticket e conta com as redes sociais como chamariz. Segundo o coordenador do Nucciber (Núcleo de Combate aos Cibercrimes), Fabrício Patury, existe no País um caldo cultural que facilita esses delitos. “No Brasil houve uma inclusão digital enorme, mas ela não foi acompanhada de uma educação virtual”, afirma.
As vitrines para os estelionatários virtuais são as redes sociais com mais usuários, como o Facebook e o Twitter. Os criminosos criam verdadeiros canais de propaganda – alguns mais elaborados direcionam o internauta para sites, outros negociam na própria rede ou redirecionam a conversa para o e-mail ou WhatsApp. “O Facebook serve para convencer a vítima a entrar em contato com ele de outra forma”, diz Ronaldo Tossunian, delegado titular da Delegacia de Investigações sobre Crimes Cometidos por Meios Eletrônicos de São Paulo. Segundo ele, a investigação dos crimes virtuais se dá nos sites e nas redes sociais dos criminosos.
“Com as informações do dono do perfil, obtidas junto à Justiça, a gente tem como localizar o IP”, diz o delegado. Mas a apuração não é rápida. Hoje, em São Paulo, por conta da alta demanda, esses dados demoram de 6 a 8 meses para chegar à delegacia. O caso Coldplay ainda está sob investigação. Segundo as vítimas, Bittar está foragido no Exterior. Procurada pela reportagem, a irmã do acusado e também advogada, Alexandra Bittar, afirmou que seu irmão está fora do País para se tratar de uma depressão. Ela alega que entrou em contato com as pessoas que se sentiram lesadas para ressarcir o valor.