Polícia Civil trabalha com várias hipóteses e não descarta terrorismo
A Polícia Civil do Rio de Janeiro já sabe que ao menos quatro homens participaram do ataque à produtora do canal de humor Porta dos Fundos, que foi alvo de coquetéis molotov no dia 24 deste mês. Segundo o delegado titular da 10ª Delegacia de Polícia (Botafogo), Marco Aurélio de Paula Ribeiro, já se sabe quais são as características físicas dos suspeitos, mas ainda não há conclusão sobre a identidade deles.
O delegado participou na manhã desta quinta-feira (26) de uma reunião com representantes do canal de humor e o subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Polícia Civil, Fábio Barucke, na sede da corporação, no centro do Rio de Janeiro.
Marco Aurélio de Paulo Ribeiro informou que foram identificados os donos de um carro e uma motocicleta usados durante o ataque, que está sendo tratado como um crime de explosão e uma possível tentativa de homicídio, já que um vigilante da produtora, que estava na portaria, sofreu risco de morrer.
O enquadramento do caso na Lei Antiterrorismo não foi descartado, segundo os delegados que estiveram na reunião e atenderam à imprensa no início da tarde de hoje. “O terrorismo, a princípio, não foi classificado, mas não descartamos qualquer hipótese”, disse Fábio Barucke. “Temos que trabalhar com os fatos até então acontecidos. Foi uma explosão dentro de uma unidade particular e que gerou perigo concreto à vida de uma pessoa que estava no local e sofreu, de fato, uma tentativa de homicídio.”
O subsecretário da Polícia Civil destacou que a corporação vê o caso como de extrema gravidade e mobilizou uma força-tarefa para solucioná-lo – o grupo envolve também a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI). A delegacia especializada já está produzindo provas para chegar à autoria do ataque, que foi filmado e publicado nas redes sociais supostamente por um grupo que se identifica como integralista e ainda está sob investigação da polícia. Segundo Barucke, o grupo que teria reivindicado a autoria dos ataques no vídeo nega relação com o ocorrido.
“O vídeo é verídico. O que não se sabe é se realmente foi o grupo que fez. O grupo integralista diz que não é deles”, disse Barucke, que espera que a responsabilização intimide ações semelhantes. “Julgamos importante, além de responsabilizar pelo fato já produzido, inibir ações futuras que esse grupo possa estar planejando.”
O canal Porta dos Fundos vem recebendo ataques virtuais e críticas desde que publicou no Netflix o especial de Natal deste ano, no qual retrata de forma humorística partes da vida de Jesus Cristo, que vive um relacionamento homossexual no longa-metragem. A Polícia Civil ainda analisa a possibilidade de que o atentado tenha alguma relação com o filme. “Não posso, no início da investigação, dar certeza da motivação dos agentes”, disse o delegado titular da 11ª DP, que vai conduzir o inquérito.
Após a reunião com os delegados, o ator João Vicente de Castro deu uma declaração à imprensa em nome do Porta dos Fundos e disse que confia no trabalho da Polícia Civil. “A gente não está falando do Porta dos Fundos, a gente está falando sobre liberdade de expressão. A gente tem um ato violento que aconteceu e que não se pode permitir que aconteça”, disse. “O Rio de Janeiro não precisa de mais violência e de mais grupos violentos, e a gente precisa cortar esse mal pela raiz.”
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, comentou o ataque à produtora e disse que “a via correta para buscar qualquer eventual reparação” é o Poder Judiciário. “Queremos, no prazo mais rápido possível, encontrar os autores dessa espécie de atentado e dar imediatamente à sociedade as respostas necessárias”, disse o governador a jornalistas no Palácio Guanabara, sede do executivo estadual.
(Por Vinícius Lisboa – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro)