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Produção agroecológica muda a vida de famílias brasileiras

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Tecnologia social aplicada na agricultura familiar incentiva a cultura de orgânicos e o empreendedorismo

Por Luciana Barbo – Desde 2004, as paisagens secas de regiões áridas do país vêm ganhando mais tons de verde e oferecendo qualidade de vida a seus habitantes. A mudança é proporcionada por uma tecnologia social chamada de Produção Agroecologia Integrada e Sustentável (PAIS), que incentiva a produção sem o uso de agrotóxicos, com técnicas que preservam a natureza e ainda garantem segurança alimentar e renda a milhares de famílias que antes dependiam de programas sociais para sobreviver.

Fomentado pelo Sebrae, o sistema funciona a partir de três canteiros circulares, preparados para o cultivo de hortaliças. No meio, é implantado um galinheiro. O esterco das aves que vivem ali serve para enriquecer o solo das hortas e o uso das sobras dos plantios alimentam as aves. Já a irrigação é feita pelo sistema de gotejamento, o que economiza os recursos hídricos, já tão escassos em regiões áridas.

Em todo o país, são mais de 10 mil unidades implantadas. Mais do que alimentar suas famílias com o que é cultivado, esses pequenos produtores passam a enxergar a propriedade como um negócio. Dessa maneira, conquistam mais renda a partir da comercialização e são incentivados a criar parcerias para facilitar a venda e obter certificações que agregam valor aos produtos.

No município de Limoeiro, em Alagoas, a horta de Maria José Goes está repleta de coentro, salsa, cenoura, alface, pimenta, pimentão e macaxeira. Já o quintal tem pés de mamão, caju, e manga. Todos esses produtos, e os ovos recolhidos do galinheiro, são consumidos pela família e comercializados na propriedade, nas feiras de orgânicos dos municípios de Pão de Açúcar e de Belo Monte e também vendidos para a prefeitura, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Somente nas feiras, de janeiro a junho, a agricultora conseguiu quase R$ 5 mil. Já a merenda escolar dos municípios vizinhos consomem 80 quilos de mamão e 100 quilos de mandioca de seu quintal.

“Atualmente, ganho mais do que antes. Com o dinheiro, coloquei piso de cerâmica na minha casa e comprei mais um pedaço de terra, que divido com meus filhos. Eles também são contemplados com o PAIS”, afirma a agricultora de 62 anos.

Do outro lado do país, no município de Ribeirão Claro, no Paraná, a agricultora Marilda Baggio comemora a conquista não só dela, mas de todas as 18 famílias que implementaram o PAIS. “Tem gente que andava de fusquinha velho e que agora tem carro zero para carregar a produção. Também melhoraram a casa, o telefone, a televisão”, afirma ela, que conta com 13 círculos de produção.

Renda extra

Os produtores de orgânicos, muitos deles já certificados, se juntaram em associação e fornecem 22 toneladas de couve, mandioca, abóbora, alface, batatas e cenouras por mês à prefeitura do município, governo do estado, mercados da cidade e também de Ourinhos (SP). “Para mim, a experiência é ótima. Entrei no projeto para produzir alimentos para o meu restaurante e, agora, mais do que abastecer a minha cozinha, também tenho uma renda extra”, diz ela, que já foi presidente da associação de produtores.

No assentamento Lagoa de Xavier, a 25 quilômetros de Mossoró (RN), a produção agroecológica é a principal fonte de renda para Francisco França. “Quando tudo começou, era muito difícil mudar nossa mentalidade, até porque a demanda ainda era muito pequena. Hoje estou mais do que satisfeito com o trabalho e com a renda que tenho”, comemora.

Em uma área de cerca de um hectare ele cultiva rúcula, alface, cebolinha, coentro, couve, pimentão, tomate cereja, cebola, beterraba e repolho. Também aposta em frutas como goiaba, mamão e banana. Segundo ele, o aumento na produção supera os 200%.

Francisco e outros produtores da região vendem os alimentos na Feira Agroecológica de Mossoró, que acontece todos os sábados. Semanalmente, ele comercializa cerca de 15 quilos de tomate, 150 maços de coentro, 10 pacotes de cebola, além de outros produtos. O restante da produção é comercializado por meio de programas governamentais ligados à agricultura familiar.

“Eu não poderia estar mais feliz e orgulhoso, sabendo que estou oferecendo alimento de qualidade e ajudando a disseminar a cultura dos orgânicos, e ainda tendo uma renda mensal que cresce a cada mês”, atesta o produtor, que já trabalha com um auxiliar e pretende contratar outro para dividir as tarefas.

No assentamento Recanto da Esperança, também em Mossoró, a produtora Geisa Maria do Nascimento é mais um exemplo de aumento de renda por meio da produção orgânica. “Antes eu nem sabia o que era orgânico. Hoje, quando estou no pico da produção, chego a ter uma renda de R$ 1,2 mil por mês só com a venda dos produtos na feirinha”, revela a produtora, que está há seis anos no PAIS.

Ela e o marido se revezam nas tarefas, desde o preparo da calda nutritiva à base de esterco para fertilizar o solo até a colheita e comercialização dos produtos. Em meio ao plantio dos mais diversos tipos de hortaliças também acontece outra etapa do processo. O viveiro de mudas instalado no terreno retrata o bom momento do negócio e é prova do ritmo contínuo de produção adotado na produção.

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