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O que está acontecendo com a família?

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*Bispo Robson Rodovalho é fundador e presidente da igreja Sara Nossa Terra. Teólogo e físico, escreve sobre temas religiosos, liderança e a relação entre espiritualidade e física quântica

É no seio familiar dado à criança hoje que o adulto de amanhã constrói identidade, autoestima, segurança e valores que vão guiar sua vida e construir a sociedade

Ao argumento de respeito às minorias – que soa mais como pretexto –, a liberdade para a constituição dos relacionamentos vem sendo discutida somente sob o prisma do afeto. Que é imprescindível e louvável, claro. Mas igualmente importante – e que neste momento vêm sendo deixados para segundo plano – são a aliança, os votos de compromisso e de união perenes, aquela ideia de algo herdado de nossos pais, que a eles foi delegado por Deus e que, a nós, cabe perpetuar.

Não se trata aqui de discutir modernidade ou caducidade de uma instituição. Mas a ela atribuir sua verdadeira completude, que não pode ser minimizada, muito menos suplantada pela bandeira da liberdade – sob qualquer viés, a qualquer preço. É na linha do descompromisso a dois que floresce o descompromisso com o terceiro, com o quarto, com a sociedade, consigo mesmo, com a vida.

Acho importante a gente meditar sobre as consequências dessa realidade. Isso tem consequências! Gera seres humanos diferentes dos que herdamos no passado. A família, como projeto original, é insubstituível, porque ela é o elemento básico da formação do ser humano. Não conhecemos outra experiência tão eficaz de vida em sociedade com respeito mútuo. O Império Romano, por exemplo, tentou formar indivíduos não pela família, mas pelo exército. Eles tiravam as crianças das suas casas na faixa entre 7 e 9 anos e criavam os pretensos “guerreiros”. A história mostrou o desvio que aquilo causou: um batalhão de assassinos em potencial.

Depois, com a influência da igreja, definitivamente, venceu a batalha daquela obscuridade do século I. Passado esse episódio, vimos que as famílias tinham que se tornar mais fortes para sobreviver ao ataque dos bárbaros que os invadiam, em seus vilarejos. Daí veio o principio das cidades fortificadas e que se uniram formando estados, protegendo-se uns aos outros.

A pergunta que fica diante do descompromisso institucional diante da família que se tem hoje é: quais as consequências disso no futuro? Sentimos que estamos em um trabalho quase que de guerrilha, quando somos minoria em guerra diante de uma grande maioria. E temos que ser inteligentes nas estratégias que usamos. Embora exista uma base em nossa sociedade que ainda acredite na família, há uma frente ampla, bancada por forças do capital, que trabalha em prol da anarquia; forças essas que giram em torno da propaganda, do imaginário de propósitos discutíveis, sem raízes e de futuro incerto.

Como físico que sou, penso que, a persistirmos nessa rota, o final da linha é o caos, no sentido de uma desorganização dos valores que orientam a vida em sociedade, valores esses que, sim, precisam ser revistos, modernizados, mas não desestruturados sem propósito, sem um alicerce que os mantenha.

O caos não é uma desorganização total, mas de um sistema global, formado por microssistemas extremamente fortes e organizados que, quando você tenta uni-los em um quadro maior, consegue uma desorganização geral chamada caos. Por isso que a física, recentemente, criou a Teoria do Caos, porque ela é previsível. Em cima dessa ciência é que se descobriram as mais modernas técnicas de prevenção, por exemplo, de furacões, tufões. Como são microssistemas organizados, são previsíveis e podem ser estudados em suas tendências, como a velocidade e a direção das massas de ar que os compõem.

Sem família, alicerçada em um conjunto sólido de valores, formamos uma geração sem identidade, sem segurança, sem compromissos. Se uma criança não teve um afeto, amor, identidade de gênero, ela se perde em sua própria identidade. Vamos ter pessoas sem autoestima. Se eu tenho um pai que não me ama nem me protege, que faliu em aplicar a essência do amor paterno, teremos descendentes sem identidade e autoestima.

Hoje o que se vê são milhares de pessoas buscando prazer instantâneo porque nada tem sentido, nada vale a pena. Esse é o quadro dos nossos jovens adolescentes. É só ir às cidades mais carentes. Eu vejo isso! Como faço trabalhos sociais, visito muitos lugares cheios de jovens perdidos, usando drogas, dispostos a roubar, matar. Por quê? Porque não têm autoestima, não têm nada a perder. E essa não é uma crise das classes menos favorecidas apenas. Existe cada vez mais como característica também das classes A e B, que também estão perdendo sua identidade familiar.

De um modo geral, o mundo ocidental não está sabendo lidar com esses problemas. Ninguém está sabendo se relacionar com essa juventude. Estamos colhendo crianças abandonadas, adolescentes transgressores e adultos criminosos. Os números nos assustam: não há nem cadeia suficiente para colocar os transgressores. Se adotarmos o princípio da prisão apenas, precisamos saber que isto tem um preço. Vamos modernizar o sistema prisional? Parece que não! Isto elevaria os custos deste sistema prisional às alturas. Mesmo diante desse quadro, não sou pessimista. Muito pelo contrário, sou até otimista, e sabe por quê? Deus sempre agiu no caos

Em Gênesis 1, a primeira frase é: “Em princípio Deus criou a terra, que era vazia, sem forma”. Logo em seguida, vemos que o Espírito Santo de Deus pairava sobre a face das águas. Houve reconstrução. O que quero dizer com isto? Que Deus sempre trabalhou no caos. É no caos que a grande maioria das pessoas pensa, busca Deus. Estamos nesse grande Titanic, e que Deus nos ajude a reconstruir esse mundo.

A igreja cristã só prevaleceu por conta do caos do Império Romano, que faliu em sua essência. A Bíblia diz que, “nos últimos dias, o monte da Casa do Senhor seria maior do que todos”. (Is 2 : 3)

Temos um trabalho intenso a fazer, porque o único lugar seguro nessa terra, sempre, tenha certeza, será a igreja do Senhor; será o sistema montado por quem tem visão, sobriedade, discernimento, bom senso. A democracia serve para isso: alguns se matam, se destroem, é verdade; mas o espaço democrático permite montarmos igrejas, comunidades terapêuticas sérias, e isso passa pela vida dos lideres cristãos desse país.

Por outro lado, não podemos fazer um discurso bonito e ter uma vida torta. É preciso manter a coerência entre o que falamos e vivemos, ser exemplo para essa geração. Se tem caos, os jovens precisam olhar para um lugar seguro. Esse é o desafio que pulsa nas nossas responsabilidades. Que Deus nos ajude a construir essa opção de ser exemplo para uma geração.

 

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